Nos últimos anos venho me surpreendendo com a intensa falta de atuação pedagógica nas escolas em detrimento da obrigatoriedade de laudos, receitas e diagnósticos.
Me pergunto então, que educação é essa?
Professores estão atrelando o aprendizado ao CID X e seu total desconhecimento da função que este Código Internacional de Doenças representa na classe da saúde.
Achando-se respaldados pelas Notas Técnicas do MEC (na qual não encontrei nenhuma referência sobre a obrigatoriedade desses documentos), professores exigem que os alunos deficientes, ou que apresentem alguma dificuldade de aprendizado, estejam munidos de seus laudos médicos COM CID e receituários completos dos medicamentos que os alunos tomam.
A educação esqueceu que seu propósito é estimular habilidades existentes e conduzir o aluno na aquisição de novas habilidades que permeiem a construção do conhecimento.
Participei de reuniões de professores onde o tema central girava em torno da deficiência do aluno e seu diagnóstico como se todo o planejamento escolar dependesse única e exclusivamente dessa informação.
Não ouvi, em nenhum momento, palavras como adaptações curriculares, projetos pedagógicos, plano de aula, dinâmicas escolares, saídas pedagógicas.
Me senti claramente dentro de um estudo de casos da saúde, num ambiente hospitalar. As palavras chaves eram medicação, terapia, elegível, diagnóstico, público alvo, sessões.
É assustador perceber que além de ser reconhecido pelas suas inabilidades, os alunos são classificados por elas e seu conhecimento e a atuação dos professores dependem do nome da deficiência que o aluno possui.
O que esses professores pensam da vida? Quem eles pensam que são?
Teremos outra síndrome de onipotência, tal qual os médicos que decidem quem irá viver e quem irá à óbito?
Os professores acreditam, verdadeiramente, que tem o direito de eleger quem irá aprender e quem deverá ser rotulado?
Que escola inclusiva é essa que observa, rotula e decide quais alunos devem aprender ou não?
Me lembro de depoimentos de professores do passado que lutavam avidamente para que seus alunos com dificuldades em aprender pudessem alcançar seus companheiros de classe, mesmo que isso parecesse impossível.
Graças a esses professores a educação era primorosa e eficiente.
Mas o que podemos esperar de professores mal preparados, que se especializam a distância e que mal escrevem nosso idioma com fluência?
Essa não é uma preocupação apenas minha. A internet está repleta de artigos sobre o assunto, os mestrados de pesquisas e sobram fóruns que discutem sistematicamente essa problemática.
Há que haver uma legislação e uma punição e auditoria que defendam o aluno em seu direito de construir saber. Porque essa construção não é linear e igualitária, e não se faz apenas academicamente. Ela é pessoal, única e se efetiva a partir de todas as relações que o indivíduo estabelece ao longo de sua vida. Por esse motivo, os grandes pensadores da educação já afirmaram que a construção do saber se faz ao longo e por toda a vida.
Que professores se limitem a ensinar.
Afinal, cada um no seu quadrado, que de medicação nossa sociedade já está cheia!