Antigamente, como dizia minha mãe, no meu tempo de menina, as escolas priorizavam o ensino da dança, das artes plásticas e da música em seus currículos e planejamentos.
Não era por acaso que isso acontecia. As artes promovem a construção do saber, não apenas pela questão estética, mas por apresentar uma maneira única de olhar a vida e o mundo que nos cerca.
Através da arte observo detalhes minuciosos na natureza e naqueles que me rodeiam. Posso distinguir gamas e nuances de sons e cores, e a partir disso, estimular a atenção e as percepções visual e auditiva.
Através da arte exercito minha motricidade fina, e, caso essa arte seja a dança, meu desenvolvimento psicomotor.
As artes plásticas nos leva à percepção de luz e sombra, equilíbrio e harmonia, tão uteis no desenvolvimento da escrita e da leitura.
A música favorece a compreensão das estruturas matemáticas, estimulando as consciências fonológica e semântica, também fundamentais ao aprendizado da escrita e da leitura.
A partir daí tudo o mais se constrói, se apreende, se compreende.
Nos dias de hoje, além de tirar essas disciplinas do currículo escolar, as escolas perderam seu espaço de convivência onde a criança exercitava as relações pessoais e sociais, que a permitiriam olhar o mundo de forma a reconhecer seu pertencimento a ele.
As crianças não brincam mais, não fazem amigos reais, não aprendem a solidarizar-se e nem a conhecer sentimentos tão profundos e fundamentais para sua existência como ser humano: compaixão, solidariedade, amizade, companheirismo, respeito, caráter.
Que escola é essa na qual a criança aprende a ser solitária e a alcançar seus desejos consumistas a qualquer preço?
Que escola é essa onde a criança aprende as disciplinas necessárias para entrar na faculdade, mas não aprende as virtudes básicas para conviver no mundo do amanhã?
Que indivíduos estamos criando?
Precisamos repensar os espaços e currículos escolares para que num futuro, no qual nós certamente não estaremos, eles possam continuar a viver, não como mecanocratas, mas como pessoas que reconhecem em seus pares o outro humano que o ajudará a seguir em frente.