Vamos falar de Arteterapia, vamos falar especificamente sobre a arteterapia como coadjuvante na construção do saber e do conhecimento, mas não apenas do conhecimento acadêmico linear e curricular, e sim o saber que constrói o indivíduo e sua subjetividade.
Vamos falar de como a arteterapia estabelece o saber pela construção da subjetividade, do sujeito. A arteterapia é, antes de tudo, uma mediadora no processo de construção do si mesmo, e para construir conhecimento é necessário que essa estrutura do “self” possa acontecer, pois segundo alguns teóricos do aprendizado, construir saber demanda três etapas:
O objeto em questão é o proposto do saber. Por exemplo, um lapís só será um lapís depois de eu mesma experenciá-lo de forma global: tocar, sentir, usar, olhar e assim por diante. Se eu não me relaciono com o objeto do meu saber em toda sua plenitude, eu não construo saber.
Porque essa construção é feita pela apreensão, não pelo aprender, afinal apreender é tomar posse para si, é possuir o saber, e deixá-lo integrar-se ao si mesmo.
Dessa forma, a arteterapia, então, por ser construtora do self, também media a apreensão do saber.
Assim, como a arteterapia pode favorecer a construção do conhecimento especificamente na educação especial?
As atividades plásticas. O exercício do fazer artístico, contempla todas as áreas fundamentais para o desenvolvimento cognitivo.
Os aspectos motores, através da manipulação de pincéis, trinchas, ferramentas de entalhe, etc.
O aspecto cognitivo, através do recorte, da desconstrução do concreto e da reconstrução de uma nova simbologia.
O aspecto psiquico, através da identificação e resignificação do conteúdo emotivo.
E, finalmente, o aspecto transcendente, através do reconhecimento do pertencer a algo maior.
Assim, uma atividade aparentemente sem importância imprime e carrega uma significação, uma transformação pessoal e intransferivel.
Em um exemplo prático podemos ver uma atividade realizada em uma Instituição de Ensino Especial.
Aqui deu-se início a atividade de arteterapia a partir da proposta pedagógica e de uma demanda familiar:
Utilizou-se uma técnica expressiva, a biblioterapia, com o conto João e Maria, para levar a reflexão dos conteúdos emocionais;
O grupo, composto por alunos entre 13 e 17 anos, com síndromes diversas, como Asperger, Tourette, Prader William, Down e deficiência mental moderada. Eles cursavam a série equivalente ao 3º ano do Ensino Fundamental.
A maior problemática pedagógica era relacionada à compreensão dos enunciados e dos textos.
A escolha do texto deveu-se ao fato de os personagens centrais, João e Maria, terem idades semelhantes às idades dos participantes da atividade, e de vivenciarem uma situação limite adequada e representativa de um rito de passagem, característica da saída da adolescência, entrada na juventude.
A construção da casa de doces, atendeu, em primeiro lugar à solicitação dos alunos e em segundo lugar, ao desejo de “ingerir”, ou tomar para si, o conhecimento e o saber dos “mais experientes”. Todos participaram do projeto e este integrou os conteúdos pedagógicos: matemática, geometria, português, etc.
O resultado foi uma percepção das questões de limites que levaram à escolha do Conto em si: o conflito da passagem da infância para a juventude e suas limitações e cobranças familiares.
Em relação à construção da lógica do discurso, os alunos conseguiram compreender e assimilar a estrutura basica compreendendo o início, meio, ápice e fim, levando este conhecimento para sua prática discursiva.
O fato do trabalho ter envolvido as questões matemáticas, financeiras e geométricas, proporcionaram uma nova perspectiva em relação à motricidade fina e as dificuldades que alguns alunos apresentavam nestas questões.
E, finalmente, trabalho em grupo favoreceu o aprendizado e a leitura do mundo além daquele que os alunos vivenciavam. A percepção da existência de um mundo além do alcance dos olhos permitiu o exercício da imaginação e consequentemente, a ampliação da criatividade, levaram alguns alunos a pesquisarem mais sobre outras culturas, outros países e outras histórias e o desejo de continuar o trabalho com contos em todas as questões que os envolviam e que sinalizasse o desejo de reflexão e autoconhecimento.